A medida do governo de Estado de São Paulo que pretende abolir o uso do livro didático das salas de aula da rede pública - substituindo esse recurso pedagógico por uma suposta produção “digital”- vem gerando polêmica e vai na contramão dos principais sistemas de ensino do Brasil e do mundo. É vista como uma tentativa de vender a ideia de que os livros são obsoletos e que, portanto, “tudo está na internet”.
Por trás dessa iniciativa, uma visão que se pretende avançada, mas pode embutir interesses empresariais da área de produção de material digital. Essa, inclusive, é uma das linhas da investigação instaurada pelo Ministério Público de São Paulo (MP/SP) para apurar o que levou o governador Tarcísio de Freitas e seu secretário de Educação Renato Feder a anunciarem que São Paulo não irá aderir ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do governo federal, que oferece livros didáticos aos estados sem contrapartida financeira. São 10 milhões de livros, no caso de São Paulo, que deixariam de ser distribuídos à rede estadual.
Se vingar, a decisão do governo paulista será a única em todo o país e inédita no mundo. O PNLD tem cerca de 80 anos e entrega, sem ônus aos governos estaduais, livros didáticos para todas as séries das escolas públicas. A reflexão é sobre o ineditismo da medida, sua estranheza e se algum grupo empresarial estaria se beneficiando, caso venha realmente a ser implementada.
Críticas não faltam - no Brasil e no mundo. Sempre que algo é anunciado como inovação, ainda mais quando o mundo inteiro rejeita, pode-se ficar com um pé atrás. Este é um caso que tem tudo para dar errado. Muito errado. Vamos acompanhar!
ATUALIZAÇAO EM 9/8/2023: Após a enxurrada de críticas na mídia, no meio acadêmico, entre professores e diversos especialistas, o governo de São Paulo anunciou o que seriam “recuos”: irá aceitar parcialmente os livros do PNLD para 2024, mas “apenas os de literatura". Também informou que irá “imprimir o”s slides que comporiam o tal conteúdo alvo das críticas e que geraram repercussão altamente negativa na sociedade como um todo. A intenção seria “distribuir” para quem quisesse o material como se fossem livros impressos - o que não é.
Formou-se praticamente uma unanimidade que a medida de propor “ensino digital" (um arremedo disso, na verdade) traria prejuízos ainda maiores aos estudantes da rede estadual paulista. Além do mais, o material - se impresso e distribuído - vai simplesmente reproduzir o que começou errado. Ou seja, ninguém sabe que tipo de material é esse, quem produziu esses slides e se servem como conteúdo pedagógico. Diferente dos livros do PNLD, escolhidos por especialistas, avaliados, revisados e, melhor ainda, disponíveis sem que o Estado gaste um único centavo, como ocorre há décadas no país inteiro.
Como se viu, os erros grosseiros no anúncio da medida ainda não foram revistos e o governo de São Paulo insiste nessa coisa torta de gastar dinheiro público para imprimir algo que provavelmente servirá apenas para beneficiar algum grupo. Mais uma coisa para o Ministério Público de São Paulo investigar, como foi anunciado.
No fim, tudo por uma briga política com o atual governo federal. Isso apenas prejudica os estudantes, cria problemas desnecessários para a rede de ensino e fere a autonomia dos docentes em sala de aula. Como começou, se não for sepultada de vez, a medida tem tudo para continuar no caminho errado.
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