Helena Almeida e os desafios da arte conceitual
Artista plástica portuguesa ganhou exposição no Instituto Moreira Sales em SP com trabalhos fotográficos que trazem a própria Helena como protagonista. Ela uniu beleza e questionamentos sobre a arte.
Reprodução de fotos da artista no Instituto Moreira Sales/Djair Galvão
Em fins da década de 1960, a artista plástica portuguesa Helena Almeida (1934-2018) resolveu abandonar a pintura e iniciar um ciclo de criações nos quais a fotografia e outras manifestações desse universo se entrelaçavam a outros para impor questionamentos que somente a arte conceitual tem o poder de trazer à luz. É o que revela a exposição Fotografia Habitada, em cartaz no Instituto Moreira Sales, na Avenida Paulista, 2424, em São Paulo.
Helena foi além: passou a usar o próprio corpo e sua figura para criar nuances que embutiam o protesto contra a ditadura salazarista em Portugal, ora encobrindo partes do rosto, ora falando de censura ou mesmo produzindo mistos de fotografia e pintura que, aparentemente, não fariam sentido. O sentido vinha exatamente do fato que servia para questionar a condição da arte naquele período em seu país e em outros lugares do mundo, inclusive no Brasil e sua ditadura iniciada em abril de 1964.
Colagens, pinturas sobre fotos, duplicidade de fotografias e manifestações do seu corpo sintetizam a arte que passou a “habitar” a artista plástica, nascida em Lisboa em 1934 e falecida em 2018 em Sintra.
No bojo da instalação fotográfica, os visitantes podem ouvir um ruído alto num quarto escuro, que Helena Almeida produziu utilizando um lápis riscando indefinidamente sobre o papel, como se rasgasse a própria alma para se colocar diante - dentro e protagonista - da sua arte.