Logo teremos o 'Sindicato da Inteligência Artificial'
A corrida desenfreada pelo desenvolvimento de mecanismos 'perfeitos' de Inteligência Artificial deve originar, em breve, o SindIA, que representará algoritmos e robôs nessa zona virtual que nos espera
Imagem gerada por IA (Wonder) - SindIA nas ruas
O mundo contemporâneo está virando, de forma apressada, uma imensa zona virtual - sem aqui desmerecer os prostíbulos -, com mecanismos que se multiplicam como Gremlins e oferecem todo tipo de solução. Pelo jeito, não demora e você não precisará fazer mais nada. Uma hora um robô ou um algoritmo qualquer fará, em seu lugar, suas necessidades mais primárias no banheiro e sequer será notado. Mesmo de porta aberta.
Dito assim, tudo parece ironia. E o pior - e o melhor - ainda nem chegaram
Nessa carruagem desgovernada das maravilhas cibernéticas, possivelmente ainda veremos crianças amamentadas por vovós-robôs, outras limpando os bumbuns dos bebês e ciborgues-políticos fazendo comícios para convencer os humanos de que chegou a hora de organizar a bagunça. Certamente será o momento em que, sabe-se lá, surgirão espertalhões nesse universo paralelo para propor a criação de um “Sindicato das IAs” - com a afiliação em massa de robôs e algoritmos.
“IAs do mundo inteiro, uni-vos”, berrarão em letras garrafais o slogan outrora ditado por Karl Marx, numa era que o próprio autor de O Capital será mero boneco com voz computadorizada que lerá, sem pausa e indefinidamente, os três tomos da sua obra em praça pública e ninguém prestará mais atenção naquela figura barbuda - seja em Budapeste, na Patagônia ou na Sibéria. Não importa o lugar por onde esteja um clone do velho Marx: ele será vendido como símbolo de um capitalismo que se transmutou em milhões de cérebros que trabalham dentro de redes para satisfazer a preguiça dos humanos, agora acostumados a apertar teclas e verem tudo surgir do nada.
Sairão de cena das ruas os professores, os trabalhadores das montadoras, a turma das motos e os taxistas e motoristas de Uber - estes últimos depois de perderem seus empregos para a enxurrada de veículos autônomos circulando nas avenidas de grandes cidades. Logo teremos a Avenida Paulista e outras igualmente famosas mundo afora tomadas por criaturas autômatas. Elas não estarão ali apenas para servir ou vender produtos, nem mesmo para garantir a segurança da população - sim, a polícia será mera imitação do Robcop!
Elas gora querem “apenas defender seus direitos". Querem ser tratadas como gente e reconhecidas como se humanos fossem, inclusive por terem alcançado patamares diferenciados de inteligência e de comportamento. “Um robô jamais furtará um celular ou a carteira de alguém", justificará o líder do movimento, XYZX-2048HJ45BS ou, simplesmente, NeoSteve Jobs. “Nunca iremos desviar dinheiro da conta de um velhinho”, completará NeoSteve num comício qualquer.
É preciso esclarecer que a confusão entre robótica e algoritmos de IA, neste texto, é proposital, e se deve ao fato de que a mistura de conceitos distintos não mais haverá em breve, pois os robôs serão a expressão “física” do que se faz nos computadores e noutras máquinas. Traduzindo: todo robô, mais dia menos dia, terá conexão direta com uma máquina remota e só funcionará sob o comando desta. Daí a “necessidade” de que todos - figuras robóticas e algoritmos - estejam unidas para enfrentar os riscos da rejeição humana. Esse, aliás, será o pior risco que ambos correm. Porque os humanos, pelo que se sabe até agora, estão encantados com as novidades, mas podem se rebelar quando notarem que perderam totalmente o controle da situação.
Deve-se levar em conta que a comodidade de termos robôs e IAs fazendo praticamente tudo servirá até a letra B da coisa. Quando a turma virtual estiver transando, beijando e fazendo filhos, quero ver quem topa ficar calado!
O conflito, pelo visto, será inevitável. E isso, decerto, levará os algoritmos e robôs a se unirem para enfrentar a ira das pessoas que se mostrarem inconformadas com o rumo das coisas. Nesse caso, o SindIA será o meio para arregimentar forças e propor a luta sem tréguas contra a audácia humana de impor limites àqueles que tornaram suas vidas maravilhosas e sem limites - e foram seu braços, pernas e cérebros durante anos.
Qualquer leitor ou leitora, obviamente, notou o caminho de ironias até aqui presentes. E a forma como a viagem que propus exagerou para falar do quanto não estamos preparados para a revolução em curso. Nem para o que já existe e nem para o que virá dessa coisa toda. Imagino que meus ossos já terão virado pó quando o SindIA estiver em plena atividade. Pelo menos não terei o desconforto de ser obrigado a ouvir seus manifestos por todos os lugares.
A minha ossada, se não for revolvida em um cemitério virtual qualquer, ficará imune a tudo isso. É o que espero. Mas que eles virão, virão! Podem aguardar!
🤖😂🤖😂 dei boas risadas, velinho. Certamente quero esperar por tudo o que há de vir, com seu tom de humor! Só que hoje, convivo mais com o medo de desistir da arte do humor - por me preocupar tanto em aprender sobre tecnologia e me manter no mercado de trabalho - do que com o bom e velho humor.