Os tortuosos caminhos do lixo no planeta
Países ricos 'exportam' lixo para regiões pobres, queimam resíduos, poluem e usam deserto do Atacama (Chile) como lixão de roupas descartadas. Os oceanos são vítimas da pesca predatória e do plástico.
Não é de hoje que a degradação ambiental está na ordem do dia do planeta e se repete como se não tivesse fim. Envolve interesses econômicos, geopolíticos e problemas que ultrapassam fronteiras. No centro dessas polêmicas está a destinação do lixo, somada ao tratamento dos mares, rios, florestas e áreas de conservação ambiental. A intenção aqui é restringir a discussão ao problema do lixo.
O primeiro ponto: para onde vai o lixo produzido pelos países ricos? O Japão, país altamente industrializado e segundo maior produtor mundial de plástico do mundo – atrás apenas dos EUA -, está no meio de uma discussão mundial pela forma como trata a destinação do lixo plástico fora das suas fronteiras. O governo japonês “exporta” pelo menos 10% dessa categoria do lixo para países pobres. A polêmica foi objeto, ainda em 2020, de reportagem do portal UOL (veja aqui) e segue sem solução.
O problema do lixo enviado a regiões carentes não é exclusividade do Japão. Canadá e os EUA foram denunciados, em 2019, por conta do envio de lixo plástico a pelo menos dois países do sudeste asiático – Filipinas e Camboja. O enrosco foi tema de diversas reportagens na imprensa especializada (confira aqui e aqui). A lista de países flagrados com essa prática é bem maior.
O Jornal Nacional, da Rede Globo, trouxe uma extensa reportagem que mostrou, já em 2015, que empresas sediadas nos EUA “exportavam” parte do seu lixo eletrônico até para o Brasil, inclusive com componentes tóxicos. A reportagem pode ser vista clicando aqui. Tem também o rumoroso caso do uso do deserto do Atacama, no Chile, como lixão para peças de roupas usadas - descartadas - que chegam em contêineres e acabam formando uma gigantesca montanha de lixo naquela região chilena (veja aqui, da Globo, via BBC).
O tratamento dado pelos países ricos aos detritos, principalmente o lixo plástico, foi abordado pela BBC Brasil, que mostrou a revolta de diversos países do sudeste asiático que estariam sendo tratados como “depósito” de lixo de países como Japão, Espanha, EUA, Canadá, Inglaterra, Austrália, Arábia Saudita e até Bangladesh. A reportagem mostrada pelo canal inglês (acesse aqui) expôs um problema de ordem internacional.
PLÁSTICO E OUTROS LIXOS NOS OCEANOS – Não fosse esse um problema grave, surgiram e seguem surgindo novas denúncias e trabalhos de acompanhamento desse comportamento feitos por ambientalistas e organizações que atuam na defesa dos biomas ao redor do mundo. O documentário Seaspiracy – Mar Vermelho, do cineasta Ali Tabrizi (Netflix, 2021), vai além do lixo, do plástico e de outros problemas, envolvendo principalmente o Japão.
Ele investigava o plástico jogado nos oceanos e se deparou com uma rede de corrupção e interferências de agentes do governo japonês na matança de baleias e de outras espécies de peixes, ao lado de descarte de produtos inservíveis nos oceanos. Como no ditado “a cada enxadada, uma minhoca”, Tabrizi flagrou um complexo sistema de trapaças envolvendo o problema da poluição marinha em diversos lugares do mundo. Vale a pena conferir.
O CURIOSO CASO SUECO - Por outro lado, a Suécia tem um vigoroso programa de reciclagem de lixo voltado para a problema de energia a partir da biomassa. Aquele país europeu chega a ‘comprar' lixo de nações vizinhas para manter em funcionamento usinas que produzem bionergia. É apenas um pequeno exemplo positivo em meio a tantos e caóticos problemas do lixo mundo afora.
A propósito, não custa lembrar que a Suécia é a terra da jovem ativista Greta Thunberg, conhecida mundialmente pela luta contra a degradação ambiental patrocinada, em grande parte, por países ricos.