Rostos em memória de Vladimir Herzog
Numa simpática pracinha nos fundos da Câmara Municipal de SP, rostos de personagens que rondaram tempos em que a ditadura militar prendeu, torturou e assassinou o jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
Jornalista Vladimir Herzog/Instituto Vladimir Herzog/Reprodução
Muito já se escreveu e ainda se escreverá a respeito dos anos da ditadura militar brasileira (1964-1985). Existe farta produção cinematográfica, documentários, áudios e registros dessa fase turva da vida nacional em muitos lugares.
Isso faz parte do exercício das memórias que visam impedir que eventos históricos dessa natureza se repitam em sociedades desiguais e politicamente turbulentas como é o caso do Brasil e de muitas nações da América Latina. O regime civil-militar imposto pelos fardados foi marcado pela perseguição, prisão, tortura e assassinato de milhares de opositores. Teve amplo envolvimento de setores do empresariado, do sistema bancário, financeiro e industrial. Isso é história e hoje é fácil consultar pesquisas e estudos nessa área.
O Caso Herzog
Dos violentos episódios que retrataram os métodos da ditadura, o caso Vladimir Herzog remete a práticas de crimes de Estado: Vlado, como era conhecido (e esse era seu nome de batismo), então diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, foi depor na sede do DOI-CODI e acabou preso - e morto no dia 25 de outubro de 1975 - nesse centro de tortura montado pelos militares na Capital. A versão dos criminosos de farda do “enforcamento" praticado pela vítima durou pouco tempo após ser apresentada à imprensa numa fotomontagem que, obviamente, não se sustentou.
A propósito, quem tem curiosidade histórica, o Instituto Vladimir Herzog mantém um site com muitas informação sobre esse acontecimento e outros na área de violação dos Direitos Humanos no Brasil na época (acesse aqui).
Alguns rostos em 75
Vindo para o presente, com o intuito de destacar o papel das memórias, Vladimir Herzog dá nome a uma praça nos fundos da Câmara Municipal de São Paulo por onde passo de tempos em tempos. O espaço também abriga o memorial do artista plástico Elifas Andreato, outro perseguido pelo regime militar. Na lateral da pracinha, o cartunista, ilustrador e músico Renato Aroeira montou um painel com os rostos de pessoas que estavam em destaque no momento político em que Vlado Herzog foi preso, torturado e morto. O nome do quadro de mosaicos é Alguns Personagens Desta História.
São 31 rostos, em azulejos, com fisionomias de figuras icônicas da luta pelos Direitos Humanos no Brasil nos chamados anos de chumbo. A ideia foi retratar como essas personalidades - músicos, religiosos, intelectuais, artistas, políticos e ativistas - estavam quando aconteceu o episódio Vladimir Herzog.
Mostro em destaque (na foto acima e na foto abaixo), rostos do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara; do Cardeal-Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns; do Reverendo Presbiteriano Jaime Wright; dos cantores e compositores João Bosco e Aldir Blanc; do jornalista e cartunista Henfil, da cartunista Laerte; dos artistas e intelectuais Lélia e Perseu Abramo; da atriz Ruth Escobar; do advogado Milton Coelho da Graça; do jornalista Audálio Dantas; de Fátima Pacheco e Fernando Pacheco Jordão; de João Batista Andrade; de Terezinha Zerbini; de Marcos de Moraes; de João Guilherme Vargas Netto; de Marco Antônio Barbosa; de Samuel MacDowell; de Helena Fragoso; de Sérgio Bermudes; de João Gomes Martins e de Gunnar Carioba. Além desses, o próprio Vladimir Herzog e alguns dos seus parentes nos idos de 1975
Tudo isso serve para mostrar as atrocidades cometidas pelo regime fardado junto com seus rostos civis. Um pacto de monstros, como a ilustração abaixo, gerada por algoritmo de IA, tenta deixar marcado.
Marcos da História que não podem ser esquecidos.
Merecido destaque.