Sistema financeiro 'decidiu subir' a Selic e essa conta é nossa
Bancos decidiram que haverá aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic. Reunião do Comitê de Política Monetária é nesta quarta-feira (18), mas 'previsão' do sistema financeiro é uma ordem pro BC
A Economia tem até uma linguagem própria, o ‘economês’, que serve para dificultar o entendimento de quem não entende mesmo do tema e ludibriar quem acha que entende alguma coisa do assunto - como é o meu caso. Por isso, tem muitas siglas, mandamentos, fundamentos e um abecedário que apenas iniciados decifram nos jornais, na TV e nos portais de internet. O Banco Central (BC) exerce a função de “autoridade monetária”, pois é encarregado de emitir a moeda nacional, regular a economia, determinar os juros e dar outras diretrizes nessa área.
A enrolada que dei no parágrafo inicial foi para me referir a uma sigla que carrega um monte coisas nas costas, gera bilhões de reais para um pequeno clube e pode até atravancar o desenvolvimento econômico de um país como o Brasil. Trata-se da “Dona Selic", nome que é dado à taxa básica de juros da economia brazuca. Essas cinco letrinhas, com seus números para cima, estão por trás do GASTO MENSAL de R$ 100 BILHÕES que o Tesouro Nacional tem com os bancos para a rolagem da dívida interna. Ou seja, o governo toma emprestado no mercado financeiro para financiar parte dos seus gastos e paga de volta com base na danadinha da Selic - que até as primeiras horas da leitura deste texto estava em 10,5% ao ano. Vinha caindo há alguns meses, mas a roda agora parece que girou.
Acontece que todo mês o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central realiza uma reunião que decide como ficará a Selic até o encontro seguinte. Uma das quatro últimas reuniões do ano acontecem nesta quarta-feira (18). A decisão só é anunciada no início da noite após a reunião, mas o experiente e saudoso colunista do jornal O Globo, Ibraim Sued, já dizia que “em sociedade tudo se sabe". Eis que eu, você e todo mundo já sabemos que a Selic “subirá" de 10,5% para 10,75% ao ano.
Mágica, adivinhação ou bruxaria? Não. O Copom já tem em mãos uma enquete (Boletim Focus) realizada semanalmente pelo Banco Central com 160 pessoas ligadas aos bancos e instituições financeiras que apontam “a taxa de juros ideal” para o país. Só não vou dizer que isso é como a raposa tomando conta do galinheiro porque seria manjado demais, mas é isso mesmo. Ou seja, 160 representantes de banqueiros dizem o quanto os 220 milhões de brasileiros deverão pagar de juros a eles a partir desta quarta-feira (18/9).
Poxa, parece uma afirmação leviana e exagerada. Mas vamos às contas: a cada ponto percentual de aumento na taxa Selic, o Brasil paga - na rolagem da dívida interna - R$ 38 bilhões (trinta e oito bilhões de reais). SOMENTE DE JUROS. Todo mês, como dito acima, escorre do dinheiro público a bagatela de R$ 100 bilhões por conta dessa taxa básica. Essa dinheirama sai dos cofres públicos direto para os cofres dos bancos. Sem choro e nem vela. É isso que esse seleto time de economistas e representantes dos bancos indica ao BC por meio do Boletim Focus.
Os caras sempre alegam qualquer coisa para subir a Selic. Agora falam em “expectativas inflacionárias” por conta dos ajustes na economia dos EUA, riscos de altas de custos de produção gerados pelas queimadas, fumaça, seca, além do dólar norte-americano, que vez por outra sobe e depois volta a um patamar médio de R$ 5,50 há alguns meses. Aliás, esta quarta-feira é o dia dedicado à especulação cambial e acionária. Tudo à espera de uma coisa que todos nós já sabemos, que a nova Selic.
Conclusão: somente um terremoto econômico favorável a quem paga impostos seria capaz de mudar os rumos dessa decisão que já foi tomada pelos bancos e deve ser executada pelo Banco Central.
E se não for? E se for mantida a Selic em 10,5%? Na hipótese improvável de não acontecer a subida na taxa básica de juros, possivelmente passaremos a semana ouvindo que foi interferência do governo no BC, que os comunistas da Coreia do Norte mandaram manter os juros ou que o ET de Varginha ressuscitou e atrapalhou a festa dos bancos.
Esse é, mais ou menos, com ou sem ironia, o mundo da economia quando se trata da Selic, a taxa de juros que deixa tudo muito mais caro e leva muito dinheiro para os bancos. E, antes que eu me esqueça, o Brasil mantém o posto de país com o segundo maior juro real do mundo - perdendo apenas para a Rússia. Juro real é essa taxa já descontada a inflação.
E vamos trabalhar para pagar os juros!
Abraços e até a próxima!
Excelente e esclarecedor comentário!